terça-feira, 15 de abril de 2008

Crise na UnB dá oportunidade a ME recuperar papel social

Carlos Magno Spricigo Venerio é professor universitário.

Leio nos jornais de hoje (15/ABR) que os alunos da UnB não querem deixar a Reitoria da universidade, mesmo com a anunciada renúncia do Reitor, Timothy Mulholland. Estão a reivindicar mudanças importantes na estrutura das universidades brasileiras, como maior peso na escolha dos seus dirigentes, tema que tenho pretendido tratar aqui.

O caso Mulholland mostrou que os mecanismos do Estado de Direito não bastam para dar resolução social a casos de condutas equivocadas de homens públicos. O caso do Reitor da UnB estava sendo bem conduzido de acordo com as regras do Estado de Direito: sabe-se lá quando teríamos um posicionamento a respeito do uso indevido de recursos públicos para uso com evidente desvio de finalidade.

Veja bem, não é o caso de defendermos julgamentos sumários, sem chance de defesa por parte dos acusados. Os fatos noticiados, porém, falavam por si: mais de R$ 400.000,00 da FINATEC usados para decorar luxuosamente apartamento funcional do Reitor. Qual a defesa da Reitoria, num primeiro momento: não foram 450 mil, foram 350 mil reais, incluídas uma lixeira de quase mil reais. No mínimo, no mínimo, o princípio da moralidade aí estava (art. 37, CF) a exigir que o Reitor se afastasse do cargo para que as investigações pudessem correr sem maiores constrangimentos. Nada foi feito neste sentido.

Desta forma, não fosse a invasão/ocupação da Reitoria pelos estudantes, este seria mais um caso a deseducar a cidadania brasileira, pois a postura imperial do Reitor indicava a via do “não tenho mais contas a prestar neste caso”. É a democracia em seu sentido pleno, não apenas a democracia aprisionada pelos conceitos da ciência política, vista como mero meio de gestão governamental, mas sim como forma de sociedade (LEFORT) que vem trazer uma solução adequada para questão de importância simbólica para a educação brasileira.

Agora, ao não querer abandonar a trincheira, tentam aproveitar a vitória na batalha contra o Reitor para reerguer bandeiras históricas importantes do Movimento Estudantil. Mesmo, de longe, vendo algumas reivindicações cuja enunciação no estilo “só saímos daqui se...” soando simplistas, fico mais feliz que triste com este ressurgimento. Torço para que o ME consiga retomar um pouco do importante protagonismo de outras épocas. Sejam muito bem-vindos!

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito oportuno seu comentário, esperamos que esse exemplo do movimento estudantil da UnB sirva para incentivar estudantes e professores de outras universidades, mostrando que ainda é possível o movimento popular organizado consquistar reivindicações e impedir desmandos.
Parabéns!
Antonio Luiz Miranda

Rodrigo PJoteiro disse...

realmente a luta do movimneto estudantil é muito importante para a democratizacao do conhecimento, mais infelizmente o que se ve hoje é uma triste "PELEGADA" que ocupa os espaços de luta dos estudantes, para defenderem seus partidos politicos, ou defender a manutenção do poder na mãos de tiranos...
exemplo disso se da na luta estudantil de nossa universidade (unesc) onde a anos o DCE é simbolo de "orgias" politicas, podemos chamar de criadouro de vermes-politiqueiros...
e a luta por uma univercidade diferente se da por pequenos grupos de academicos....
mais "a luta continua companheiros/camaradas"...
"vem vamos embora que esperar nao é saber, quem sabe faz a hora nao espera acontecer"....

Rodrigo Szymanski
academico de Historia,
militante da Pastoral da juventude , movimento estudantil.