segunda-feira, 19 de maio de 2008

Unisul: Coronelismo em pleno século 21

Lucas Borges *

(Publicado originalmente em http://www.engeplus.com.br/conteudo.php?int=noticia&codigo_not=8761)

Na prática, a Unisul tem dono. Na teoria, ou na lei do município de Tubarão (mais especificamente a lei nº1389/89), a Universidade do Sul de Santa Catarina é uma fundação municipal. Para facilitar o entendimento de quem não vive a realidade daquela instituição, vamos aos fatos.

O Conselho Universitário aprovou a antecipação da "eleição" para a reitoria da universidade, que estava prevista para setembro, mas já está acontecendo em pleno mês de maio. Ninguém se preocupou ainda em dar uma explicação ou justificativa para tal ação. O atual reitor Gérson Luiz Joner da Silveira, depois de sete anos de mandato, decidiu quem será seu sucessor, digo, já escolheu os nomes que participarão das "eleições" na condição de chapa de situação. Trata-se de Aílton Nazareno Soares, atual diretor do campus da Grande Florianópolis, para reitor, e Sebastião Salésio Herdt para vice-reitor, mesmo cargo que ocupa atualmente.

Não me surpreendi quando me deparei nessa semana com um Edital da Comissão Eleitoral, datado de 09/05/2008, informando que apenas uma chapa estava inscrita para a eleição da reitoria da Unisul. Ainda que tivéssemos uma chapa de oposição (o que parece piada), quem tem direito a votar são os coordenadores de cursos, sem estabilidade de emprego, e o Conselho Universitário, escolhido pelo reitor.

É válido lembrar que na Unesc todos os acadêmicos, professores e funcionários votam. Os candidatos a reitor apresentam propostas de gestão e debatem ações com estudantes e os concorrentes ao cargo. Estou há quatro anos na Unisul e, assim como a grande maioria de acadêmicos, professores e funcionários, só "conheço" o atual reitor por foto. Mais grave ainda é constatar, baseado em informações da última reunião do conselho, que no balanço da atual gestão existe uma diferença gritante nos investimentos feitos nos campi de Tubarão e Florianópolis. Somente no último ano de mandato, a atual gestão investiu aproximadamente R$ 1,7 milhão no campus do sul, enquanto no da capital o investimento gira em torno de R$ 9 milhões.

É o coronelismo do século 21 enquanto muitas pessoas acreditam que esse modelo autoritário teve fim em 1930. Do mesmo modo pode parecer coisa do passado o movimento Diretas Já!, mas pasme: ou os acadêmicos da Unisul vão às ruas com as caras pintadas ou vão manter atadas as mordaças impostas por uma universidade que, por ironia do destino, foi criada em 1964. *

Presidente do Centro Acadêmico de Comunicação Social / Unisul / Tubarão

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Universidade Comunitária: Da utopia para topias possíveis

Professora Leila Lourenço
e-mail:leilalourencocdp@hotmail.com

Há um livro, escrito em 1985, por alguns autores brasileiros conhecidos no meio universitário por suas idéias e práticas transformadoras do fazer e do pensar sobre o lugar que ocupa uma universidade na sociedade brasileira. Esse livro nasceu da reunião deles, professores universitários, que militantemente, discutiam e definiam qual deveria ser o papel de sua disciplina na universidade e na discussão sobre universidade. Essa disciplina era a Metodologia Científica, o livro “Fazer Universidade: Uma proposta metodológica”(Cortez) e os autores Cipriano Luckesi, Elói Barreto, José Cosma e Naidison Baptista.

Eles trazem , por exemplo, à memória, o importante papel de um outro educador, chamado por eles de profeta, Anísio Teixeira, que lá nos idos da década de 1930 já refletia sobre algo que ainda não ocorre em muitas universidades, lembremos o seu clamor:
1- A universidade deve ser um centro de debates livre de idéias e
2- que “[a]universidade brasileira, além de preparar profissionais para as carreiras liberais e técnicas que exigem uma formação de nível superior, o que tem havido é uma preocupação muito fluída com a iniciação do estudante na vida intelectual. Daí poder-se afirmar que, ressalvando o aspecto habilitação profissional, a universidade brasileira não logrou constituir-se verdadeiramente como uma instituição de pesquisa [...], nem logrou se tornar um centro de consciência crítica e de pensamento criador” ( Apud LUCKESI et al, 1985, p.35)

Esses professores defendem amplos debates sobre a concepção, organização e funções de uma universidade. Eles defendem e têm a coragem de dizer, por exemplo, que querem uma universidade democrática voltada inteiramente para as lutas democráticas, e mais, que o corpo universitário, professor-aluno e administração, necessita de espaço para assumir, cada um a seu nível a responsabilidade pelo todo. E são bem explícitos quando dizem : “ pretendemos um corpo universitário que lute para eleger seus diretores a partir de critérios que correspondam aos objetivos da Universidade. Um corpo universitário não mais deve presenciar passivamente a nomeação de dirigentes universitários estribada em critérios antidemocráticos de simpatia, serviçalismo e subserviência ao poder dominante, político ou econômico.(Idem, p.44)

Quero, por fim, terminar de contar sobre as memórias que achei importante “desmemoriar” nesse livro, que é atual e que junto minha voz a deles quando dizem: “Queremos, enfim, uma universidade onde possamos lutar para conquistar espaços de liberdade. Enquanto pensamos livremente, questionamos livremente, propomos livremente e livremente avaliamos a nossa responsabilidade . (Ibidem, p.44)