sexta-feira, 3 de abril de 2009

Gieduc entrevista pré-candidato à reitoria da UNESC (parte I)

GIEDUC - Professor Carlos Magno, o que é uma Universidade Comunitária (UC)?

CM – Uma UC é uma Instituição de Ensino Superior (IES) que foi criada pela comunidade, é mantida pela comunidade e valora seus fins e ações de acordo com os interesses da comunidade onde se insere. No estados do RS e SC esta experiência é mais forte, pois a ausência do Estado na prestação educacional superior levou as comunidades interioranas a criar uma série de IES nesta modalidade.

GIEDUC - Para o aluno que paga a mensalidade é difícil ver a diferença entre as privadas e comunitárias.

CM - Se pensarmos de um ponto de vista estritamente individual e financeiro, tenho que concordar em parte com a afirmação. Mas o caráter comunitário se evidencia em muitos aspectos da vida da UC. Sua gestão, por exemplo, deve ser baseada em princípios democráticos e republicanos.

GIEDUC - Como assim?

CM – Numa UC os gestores, reitores e coordenadores de curso por exemplo, devem ser eleitos pela comunidade. Numa IES privada isso não faria sentido, os gestores seriam escolhidos pelos seus donos, conforme seus critérios. Outro aspecto é a sua inserção na vida da comunidade.Vejamos um exemplo de minha área a título de ilustração: para cumprir as exigências do MEC, o Curso de Direito da UNESC poderia ter apenas uma casa da cidadania. A aprendizagem seria prejudicada, mas cumpriria os requisitos mínimos. Em vista disso, articulamo-nos com o Tribunal e as prefeituras e oferecemos atendimento jurídico de qualidade em três bairros de Criciúma e Cocal do Sul. Isto foi uma ação construída por alunos, professores e funcionários, a partir das discussões do projeto político pedagógico do Curso.

GIEDUC - Mas, insistindo um pouco na questão da mensalidade, por que algumas IES privadas têm mensalidade inferior às mensalidades de UC’s?

CM - A sua pergunta nos leva a destacar que as IES se constituem, além do aspecto da categoria administrativa (onde são públicas estatais, comunitárias ou privadas), em diferentes tipos de organização acadêmica e este aspecto tem reflexo direto nas mensalidades. Porque as IES podem ser Universidades, Centros Universitários, Faculdades Integradas, Faculdades, Escolas e Institutos Superiores e Centros de Educação Tecnológica. Uma Universidade necessita fazer muito mais do que apenas ensino. Há que se pensar em pesquisa e extensão de qualidade, integrados com o ensino e isto pode fazer com que suas mensalidades sejam mais caras. Por outro lado, a formação é muito mais rica e completa.

GIEDUC - O senhor falou em eleições. O consultor que a reitoria da UNESC trouxe em fevereiro deste ano para falar para os gestores e professores afirmou, em entrevista ao jornal Zero Hora, que um dos problemas das UC’s é a hierarquização por eleição e não por mérito como acontece nas privadas. O que o sr. pensa desta afirmação?

CM - Esta afirmação do consultor é enganosa, poderíamos dizer falaciosa. Com base nesta afirmação, percebe-se que ele não compreende o caráter específico das UC’s. Vejamos: sim, nas IES privadas os gestores são escolhidos pela avaliação de seu desempenho, por seus resultados (sobretudo, com ênfase nos resultados financeiros). Ora, não se pode divergir nesse ponto, ou seja, de que os gestores de uma Instituição sejam escolhidos após uma avaliação. A questão que o sr. Ryon parece não querer enfrentar é: “se na IES privada o dono avalia e escolhe, na Comunitária a quem compete fazê-lo, se ela não tem dono?”. É aí que está a questão, quem avalia e escolhe é toda a comunidade universitária, porque a comunidade é a dona da Instituição, por meio de eleições, que é o processo público e igualitário para se fazer esta avaliação e escolha. A eleição é o processo público de avaliação e escolha dos gestores adequado para uma UC, por seu caráter público não-estatal. Eu avalio, inclusive, que o modelo adotado na UNESC, com voto universal e igual pra todos, é o mais avançado em termos democráticos e deve servir de modelo às outras UC’s. Lamento que a atual reitoria invista tempo e dinheiro com um consultor que critica uma das maiores conquistas da nossa Instituição.

1 comentários:

Anônimo disse...

Professor Carlos Magno,

A entrevista é muito esclarecedora, mas fico me perguntando se o fato de a atual reitoria trazer um consultor que não compreende a lógica de uma UC não seria um indício de que ela (a atual reitoria) também está perdendo o foco?