segunda-feira, 23 de junho de 2008

UNIVERSIDADE E DESENVOLVIMENTO: Uma abordagem sociológica, segundo Florestan Fernandes. (Parte I)

Antonio Luiz Miranda
Historiador
Florestan Fernandes (1920-1995) é considerado uma das grandes figuras da sociologia crítica do Brasil. Um tema marcante de sua vasta obra foi o debate em torno do papel da universidade na sociedade brasileira.
Neste espaço, pretendo comentar um texto do autor que trata do tema e que foi, a princípio, uma palestra proferida em 1968 aos alunos da Faculdade de Direito da USP, a convite do Centro Acadêmico XI de Agosto, mesmo com a proibição do diretor da Faculdade na época.
Universidade e desenvolvimento foi um dos aspectos discutidos por Florestan Fernandes na ocasião. Partia da idéia que a universidade pode ou não contribuir para o desenvolvimento e como o desenvolvimento contribui para modificar a universidade.
Na perspectiva sociológica, Fernandes utilizou o conceito durkeiminiano que entende que “as instituições compõe ou formam a sociedade”, mas é a sociedade que determina as instituições. Com isso, o autor critica a idéia, que para ele são de “senso comum”, que entendem as instituições como sendo auto-suficientes e se determinam por si mesma. Isto é, “bastaria uma boa organização e uma boa direção, para se ter um bom rendimento ou um rendimento ótimo”.
Na condição de sociólogo Florestan Fernandes estudou a universidade brasileira a partir da análise da realidade histórico-social. Afirma que a universidade brasileira tem raízes no modelo europeu e só chegou ao Brasil com a vinda da família real portuguesa e instalação da corte no Rio de Janeiro.
Porém, dada a estrutura senhorial-escravista da sociedade brasileira da época, o modelo ao ser “transplantado” para o Brasil, sofreu 3 tipos de empobrecimento:
Primeiro: o que se instalou no Brasil não foi universidade, mas faculdades e escolas superiores, inspiradas numa política educacional “estreita e imediatista”, influenciada pelas elites locais.
Segundo: para Florestan Fernandes, apesar de todas as condições adversas, a universidade portuguesa, até certo ponto, “preenchia as funções de investigar e produzir conhecimento”. No Brasil, no entanto, prevaleceu o modelo dependente. O exemplo pode ser visto no Direito, que mesmo após a independência não rompeu com direito português herdados da era colonial.
Terceiro: Trata do drástico empobrecimento funcional dos modelos importados, a escola superior serviu apenas para conferir diplomas para o exercício das profissões liberais como, a advocacia, a medicina e a engenharia, mas a formação mesmo, se dava na vida prática, dada a deficiência dos cursos.
Estes elementos representam, de forma resumida, como historicamente o ensino superior chegou e se implantou no Brasil. É interessante observar que muitas instituições de ensino superior atualmente mantêm a lógica de se prestar apenas a emitir diplomas e buscar lucro.
As análises de Florestan Fernandes aprofundam mais detalhes fundamentais do modelo de universidade brasileira, os quais serão abordados na segunda parte.

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